Friday, March 31, 2017

CAFÉ & BOM DIA #56 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Metade dos anos oitenta e Lauro Coelho soprou uma bolha que ainda nos dias de hoje flutua na minha imaginação. Proust foi por muitos diretores considerado "infilmável", razão pela qual René Clement, Resnais, Truffaut, Malle e Letellier desistiram. Antes porém já havia sido proposto a Luchino Visconti, mesmo porque trazia essa ambição e Lauro Coelho afirma que Visconti chegou a elaborar um roteiro através de Suso Cocchi sua colaboradora de muitos anos, sendo ela obrigada a escrever em francês, pois Visconti não suportava a ideia de ler Proust em italiano. A ideia foi construída centrando no quinto volume " Sodoma e Gomorra " apontando paralelamente a história dos amores de Chales Swann por Odete de Clecy, do narrador por Albertine e do Barão de Charlus por Charles Morel explicando os aspectos do homossexualismo, dos tormentos do ciúme e do esnobismo. Esse projeto foi abortado por pressão de Helmut Berger por outro projeto que resultou num filme fantástico "Ludwig". Essa bolha voltou e atravessou minha mente ao assistir pela segunda vez o filme "Um Amor de Swann" na direção de Volker Schlöndorff. Como seria com a reggia de Luchino Visconti?



E JÁ PASSOU UM ANO. Quando ele adentrou o palco da literatura, os escritores ainda usavam óculos de aros grossos e ternos comportados. E o bolor do pós-Guerra ainda pairava sobre a Alemanha. Foi quando este jovem inquieto da província austríaca da Caríntia começou a chocar o establishment literário com sua jaqueta de couro surrada e seus cabelos longos. Ele acusava a literatura contemporânea alemã de sofrer de "impotência descritiva". Em pouco tempo, no mais tardar com a peça de teatro Publikumsbeschimpfung (Insulto ao público), transformou-se no enfant terrible da cena literária da Alemanha. Seus gestos provocativos marcaram tanto sua literatura quanto sua imagem pública. Em seus textos, o escritor mistura Nietzsche com letras de bandas de rock, escrevendo tanto sobre uma jukebox quanto sobre suas raízes eslovenas. Com o passar dos anos, ele consequentemente passou a extrair da própria vida o material narrativo para a literatura que produzia. Nos anos 1980 e 1990, na Alemanha, era quase impossível ignorar a existência de Peter Handke. O medo do goleiro diante do pênalti, por exemplo ( Será que Belchior roubou a frase? ), tornou-se leitura obrigatória nas escolas alemãs. Handke traduzia obras alheias, assumia a direção de peças teatrais e escrevia roteiros, como por exemplo o do filme Asas do Desejo, dirigido por seu amigo Wim Wenders. Aygül Cizmecioglu (sv) é cirurgica para descrever o trabalho de Handke.Em 2008 seu livro " Noite da Morávia" , a história de uma odisseia pela Europa em busca da própria vida. A obstinação política deu lugar a uma autorreflexão poética. Nasce um Handke querendo afugentar os maus espíritos dos últimos anos. Contudo vale a pena ter Handke na estante.



A amargura levou Nicolau para o mundo dos mortos. Do lado do leito de morte, nem Mandrágora e tampouco Hypocrás que lhe pudesse tornar melhor e mais alegre os últimos momentos de vida. Essa poção mágica foi então apresentada ao mundo pela primeira vez na casa de Bernadino Giordano de forma suntuosa. Gerou grande entusiasmo na ocasião. Sua criação surtiu efeito, pois levou alegria intensa, mas Nicolau não buscava riso fácil. Nicolau queria na verdade muito mais que riso fácil, sim, o riso que surge quando se descobre algo visível sem que nos damos conta por estar tão fácil. Atrás da poção da Mandrágora e o efeito proposto, temos então a virtude totalmente desmoralizada. A estupidez provoca gargalhadas e esconde o caráter dos malandros. Das palavras fáceis até as grandiloquentes há um calculista. É realmente difícil compreender as razões de algumas situações que se apresentam, mas Nicolau deixou caminhos para reflexões que nos conduzam para compreender. Embora esteja morto, seu legado está vivo não só na Mandrágora como também no emblemático Príncipe. P.S - Em torno dessa obra Maquiavélica, ensejam-se inúmeras análises, dentre as quais convêm citar: as que discorrem sobre aspectos políticos, econômicos e sociais. Seja da época em que foi escrita ou de atuais situações em que o enredo seja válido.



Saudade torrente de paixão emoção diferente, não só por Blanche, mas por alguém que tem uma visão de mundo que não acredita no ser humano por não enxergar seu igual. A leitura que faz Tennessee dos porões da alma humana nos faz ver sofrimentos calejados, descreve como poucos a solidão,loucura, marginalidade cujo o núcleo é o dinheiro e o desejo, arco da corrupção. Somos parceiros do medo e da solidão. Ler suas peças de teatro nos faz parceiros de bêbados, poetas, vagabundos, , operários, grupos reprimidos, homossexuais perseguidos, viajantes loucos e prostitutas. A dramaturgia de Tennessee Wiliams varre marchando no universo das misérias humanas. É assim na peça " A Margem da Vida ", confesso minha preferência por "Um Bonde Chamado Desejo" muito pelo encantamento por Blanche Dubois pela luta moral. Com Blanche e Stanley Kowalsky e a briga da alma versus corpo podemos sentir a grande do autor na criação literária. Não saímos impune, vamos nós todos para o hospício. Com Tennessee aprendemos mais um tanto sobre as ambiguidades humanas. Logo estarei voando pelo período antropofágico do autor, que secou a tinta das canetas dos críticos.



Alguém neste mundo que traga um só cromossomo de Molière. Alguém que exista para demolir o pedantismo, esse corredor de esnobismo e encenar " As Preciosas Ridículas ". Alguém que morra na esquina encenando " O Doente Imaginário ". Alguém que detenha conhecimento dos tipos e caráter humano e gesticule narrando fracassos. Alguém que pesquise no lago da memória com o fio do próprio pensamento. Alguém que arremesse para a outra margem o ranço azedo da intolerância. Alguém que seja comédia debaixo da chuva. Molière tem realidade cômica sem óculos, lunetas. Alguém que apele a inteligência. Olímpica e fria inteligência. Alguém no palco como Alceste em " O Misantropo " um homem reto cujo desgosto para com as loucuras, afetações e corrupção chega às raias da obsessão. O mundo social que adeja à sua volta é uma coleção de almofadinhas, bajuladores, intrigantes e namoradores. Julga impossível conviver com eles, ainda que seu leal amigo Philinte lhe aconselhe cautela. O ponto fraco em sua couraça é o amor que por uma mulher incuravelmente flertadora,à qual – como acontecia com o próprio Molière – ama em oposição ao que lhe fiz o melhor discernimento. Mas a despeito da paixão que sente por ela, não consegue violentar-se a ponto de aceitar o mundo de intriga que é o habitat natural da moça. Perseguir a integridade sem levar em consideração as realidades sociais e exigir o impossível de uma mulher superficial só podiam conduzir a um desastre pessoal. A sociedade, como ele a descreve, não pode ser reformada porque o gênero humano é fundamentalmente corrupto. Alguém que tenha direito pleno de pensar o mundo segundo seu humor.



ÓCIO CRIATIVO, CAFÉ E BOM DIA




Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

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