para CINE POP
Você que é fã de terror e vem ouvindo somente elogios de A Bruxa (The Witch), que o enaltecem como o melhor filme de terror dos últimos anos e mal pode esperar para assisti-lo, saiba que você provavelmente irá odiá-lo. E se conseguir ver tudo, estará no lucro. Você que adora terror, mas reclamou da lentidão de obras de prestígio do gênero, como Corrente do Mal e Babadook, saiba que você ainda não viu nada.
A Bruxa é um terror de arte. E isso deve dizer tudo o que você precisa saber antes de adentrar uma sessão do filme. Se você tem gosto apenas por filmes de terror que passam nos grandes shoppings, com a narrativa formulaica e tradicional, passe bem longe desta produção. Já se você tem gosto pelo inusitado, pelo cinema novo e diferente, e idolatrou estas outras duas produções citadas acima, suas chances de adorar A Bruxa aumentam consideravelmente.
A Bruxa possui um ritmo deliberadamente lento e em sua maior parte se comporta mais como um drama de época do que propriamente como um terror. Muito pouco acontece, e já imagino a debandada do público casual. Eggers, no entanto, se mantém fiel à sua veia artística e recria até mesmo a linguagem arcaica inglesa do período – o que dificulta bastante para quem está assistindo sem legenda (são muitos “thou” e “thee” – algo como vós e seis).
O clima construído pelo diretor, porém, é impecável. A crueza e o realismo imperam. Como disse o orador ao apresentar o filme, “esta é uma aula de história barra-pesada”. Na trama, uma família vive na área rural de New England na década de 1630. O pesadelo começa quando o recém-nascido simplesmente some quando sob os cuidados de Thomasin (Anya Taylor-Joy – ótima em cena), irmã do bebê e filha mais velha da família. O patriarca William (Ralph Ineson) acredita que o menino possa ter sido levado por lobos, mas logo os irmãos caçulas da menina começam a suspeitar de sua conduta errática.
Ao longo, o diretor e roteirista vai desenvolvendo seus personagens e movendo adiante a história. O clima vai se intensificando, e o cineasta brinca com as possibilidades das reviravoltas em sua trama. Seria Thomasin uma bruxa satanista, ou realmente a floresta que cerca a propriedade da família é assombrada por seres sobrenaturais – possivelmente uma verdadeira bruxa.
As atuações são ótimas, em especial dos atores mirins – destaque para a protagonista Taylor-Joy. Quem aguentar assistir até o final ganhará um presentão. O desfecho do filme, digamos os seus 15 – 20 minutos finais, reservam alguns dos momentos mais assustadores e perturbadores da história do cinema – se tornando algo digno de clássicos como O Bebê de Rosemary (1968), por exemplo. É simplesmente alucinante e impactante.
por Érico Borgo
para OMELETE
Era de se esperar de um designer de produção e diretor de peças teatrais a obsessão com fidelidade histórica e esmero nos diálogos que The Witch entrega. Mas o estreante em longas Roger Eggers supera essa expectativa em seu apavorante suspense de época.
Produzido pela brasileira RT Features, o filme acompanha uma família de colonos ingleses se estabelecendo na Nova Inglaterra, nos EUA, no século XVII.
Banidos da plantação onde viviam depois de um julgamento, os puritanos William (Ralph Ineson) e Katherine (Kate Dickie) partem em direção ao interior inóspito da região levando seus filhos e poucos pertences. A clareira às margens de uma floresta onde se estabelecem, porém, não demora a dar sinais de que há uma força sombria trabalhando no local, especialmente quando a filha mais velha, Thomasin (Anya Taylor-Joy), perde o bebê da família inexplicavelmente. Outros sinais vêm a seguir, envolvendo os gêmeos Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson), além do filho do meio Caleb (Harvey Scrimshaw), determinado a ajudar seus pais durante sua provação.
Eggers é cirúrgico na construção da armosfera em The Witch. Com uma fotografia escura e dessaturada, ele alterna os interiores claustrofóbicos da casa em construção, sempre parcialmente cobertos pela fumaça das velas, e a suposta liberdade da clareira aberta. Tudo parece convidar o que quer que esteja lá fora a entrar, porém. A fragilidade estrutural da fazenda recém-estabelecida em duro antagonismo com a solitária antiguidade da mata, que até durante o dia parece aterrorizante sob as lentes do estreante. A qualidade da reprodução histórica (que faz com que você preste atenção até nos pontos das roupas) e a musica lúgubre - também emprestada de Kubrick - ampliam o realismo e a ameaça.
A sensação de isolamento e o tema da familia sozinha contra forças sobrenaturais evocam imediatamente o clássico O Iluminado. Mas as semelhanças não vão muito além disso. Com diálogos em inglês arcaico, extraídos parcialmente de documentos de época, pela veracidade de uma era de superstição e fé extrema, The Witch explora os limites entre o suspense psicológico e o terror puro, inevitavelmente desavergonhado do que pretende ser. A cena final pode até quebrar um pouco da atmosfera conquistada tão intensamente por Eggers, mas a sensação que perdura é a de que há no mercado um novo e promissor cineasta no gênero.
A BRUXA
(The Witch, 2016, 90 minutos)
Direção e Roteiro
Robert Eggers
Elenco
Anya Taylor-Joy
Ralph Ineson
Kate Dickie
Harry Scrimshaw
Lucas Dawson
Ellie Grainger
Julian Richings
Sarah Stephens
em cartaz na Rede Roxy
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