para Cândido Portinari
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.
nasceu em 1893 em União, Alagoas,
perto da Serra da Barriga,
onde Zumbi fundou seu famoso quilombo.
Estudou medicina na Bahia e no Rio.
Publicou seus primeiros livros nos Anos 1920.
Recebeu o Grande Prêmio de Poesia,
concedido pela ABL, em 1940.
Seus versos estão entre os mais importantes
de todo o modernismo brasileiro.
Publicou também romances,
ensaios e peças de teatro,
e era um artista plástico autodidata.
Morreu em 15 de Novembro de 1953
na cidade do Rio de Janeiro,
onde foi professor universitário
e vereador por muitos anos.
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