Sunday, March 6, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA: O FIM DO MUNDO, de João Cabral de Melo Neto




No fim de um mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.

Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
o sonho final.



João Cabral de Melo Neto
nasceu em Recife, Pernambuco
em 9 de janeiro de 1920.
Sua poesia vai de uma tendência
surrealista até a poesia popular,
porém caracterizada pelo rigor estético,
com poemas avessos a confessionalismos
marcados pelo uso de rimas toantes.
João Cabral inaugurou uma nova forma
de fazer poesia no Brasil,
e deixou uma obra literária densa
e relaticamente extensa.
Quando morreu, em 9 de Outubro de 1999,
era considerado um forte candidato
ao Prêmio Nobel de Literatura.



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