Podem chamar de justiça poética ou do que quiserem, mas não consigo imaginar nada mais digno do que a Casa Cavé, a mais antiga confeitaria do Rio de Janeiro, estar funcionando novamente no mesmo prédio histórico em que começou suas atividades em 1860, na Rua Sete de Setembro, 133.
Por seu simpaticíssimo salão de chá, passaram desde Dom Pedro II e Olavo Bilac a Juscelino Kubitschek e Carlos Drummond de Andrade. Drummond, por sinal, era fã incondicional dos Pastéis de Belém e também da Salada de Frutas com Groselha servidas pelos garçons da casa.
A Casa Cavé ficou 15 anos “fora de casa”, e o motivo disso foi meramente técnico: como o imóvel é tombado, não havia como expandir a cozinha para dar vazão à produção de mais de mil doces e mil salgados diários. Daí, o jeito foi mudar em 2000 para uma outra loja na mesma rua, no 137. Sete anos depois, foi inaugurada a “Cavezinha”, um espaço para lanches rápidos na Rua Uruguaiana.
E então, ano passado, os donos da Casa Cavé, portugueses, receberam do proprietário do imóvel, também português, uma proposta irrecusável para voltar ao seu endereço original. E voltaram. Hoje, a Cavé agora possui 3 lojas funcionando no Centro do Rio.
Foi preciso refazer o telhado e restaurar vitrais, mas, de resto, a boa e velha Casa Cavé permanece a mesma. Receitas centenárias, como a do Bolo de Reis e das Balas de Caramelo, foram mantidas, para a alegria dos clientes mais tradicionalistas. As Coxinhas de Galinha servidas pela casa continuam sendo as mais cremosas de todo o Brasil. Todos os salgadinhos são deliciosos como sempre foram. E os clássicos Pastéis de Belém permanecem magníficos, inigualáveis.
Nessa nova fase, passaram a integrar o cardápio da Casa Cavé alguns pratos ligeiros tipicamente portugueses.
Como o sanduíche Bifana, de filé mignon, cottage, gorgonzola e cebolinha, coberto com lascas de alho frito, no pão ciabata fermentado em iogurte (também feito na Cavé).
Ou como a sanduíche Francesinha de filé mignon, linguiça defumada, queijo, presunto e molho especial de cerveja em três fatias do pão Petrópolis feito na casa.
A Casa Cavé serve também pratos portugueses desenvolvidos aqui no Brasil, como a posta de bacalhau fresco com molho cítrico de laranja e maracujá.
Quem é do Rio de Janeiro, ou quem éde fora mas conhece bem o Centro do Rio, não cai em roubadas. Passa ao largo da Confeitaria Colombo, sempre repleta de turistas se acotovelando em suas dependências, e segue direto para a aconchegante Casa Cavé, onde sabe que será bem atendido, bem servido e não pagará preços extorsivos por uma refeição ligeira.
Nesta semana em que a cidade do Rio de Janeiro completa 451 anos, Mangia Che Te Fa Bene recomenda uma visita à Cavé para saudar a alma portuguesa da Cidade Maravilhosa e fazer um brinde a suas origens.
Parabéns, Rio de Janeiro.
E bem-vinda de volta ao endereço original, Casa Cavé.
Parabéns, Rio de Janeiro.
E bem-vinda de volta ao endereço original, Casa Cavé.
Chico Marques às vezes é gourmet,
outras vezes é gourmand,
mas na maior parte do tempo
é apenas um comilão inveterado.
Escreve sobre comida semanalmente
em LEVA UM CASAQUINHO
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