por Érico Borgo para OMELETE
Um filme sobre um quadrinho a respeito de um diretor rodando um longa sobre uma escritora cuja protagonista de seu romance é a autora do quadrinho. Com essa estrutura de serpente comendo a própria cauda, Zoom, de Pedro Morelli, leva ao extremo ideias de metalinguagem, com inventividade.
Cada segmento do longa tem sua linguagem, elenco e ritmo próprios. São como três contos, sendo que um é responsável pelo outro. A forma é bastante interessante, especialmente no segmento do quadrinho, que é totalmente animado em rotoscopia.
Como ligação temática entre as três partes estão a arte e o sexo. Emma (Alison Pill) é uma quadrinista que durante o dia trabalha em uma fábrica de bonecas sexuais realistas. A modelo Michelle (Mariana Ximenes) aspira uma carreira como escritora, mas só é respeitada pela sua beleza. Já Edward (Gael García Bernal) é um cineasta de filmes de ação que usa o sexo como forma de manipulação enquanto trnta realizar seu trabalho mais pessoal e sensível.
Mas se na forma é interessante, Zoom se perde no conteúdo. A coprodução entre Brasil e Canadá emprega esse elenco multicultural com resultado irregular. O segmento de Alisson Pill é mediano, o de Gael Garcia Bernal é bom e o de Mariana Ximenes, ainda que a atriz se esforce, é difícil de ver em alguns momentos. Nos cruzamentos entre eles o filme chega a ter momentos de brilho, especialmente nas contestações de mercado e arte - como na sequência em que ironiza o merchandising que acaba de fazer - mas no todo, fica a certeza de que as tramas, ainda que inteligentemente estruturadas, não tem estofo suficiente para sustentar um filme, mesmo moldando-se aos desígnios de seus personagens/autores.
Se a história é a estrutura e o foco não está nos personagens, simplesmente não há uma história a ser contada. Há um exercício de estilo.
UM FILME INUSITADO QUE JÁ NASCE COM VOCAÇÃO PARA CULT MOVIE
UM FILME INUSITADO QUE JÁ NASCE COM VOCAÇÃO PARA CULT MOVIE
por Fabricio Duque para VERTENTES DO CINEMA
A sessão disputadíssima de abertura de “Zoom”, do estreante em um longa-metragem Pedro Morelli, no Festival do Rio 2015, já ganhou ares de Cult. O filme, que foi exibido no Festival de Toronto deste ano, e com produção da O2, de Fernando Meirelles, é curioso e interessante por embarcar no gênero experimental, mesclando estilos, narrativas e metalinguagem, visto que é “influenciado interativamente" pelos personagens de uma história em quadrinhos ficcional, que está dentro de um livro ficcional, que está dentro de um filme ficcional. A “confusão" propositada “desnorteia" o espectador, precisando “prender-se” aos detalhes, que por sua vez “desconstroem" o próprio entendimento temático da trama. O Roteiro de Matt Hansen é audacioso, lembrando muito o universo “surreal" de Charlie Kauffman e “Waking Life”, de Richard Linklater. E podemos acrescentar seu elenco, que vai das brasileiras Mariana Ximenes e Claudia Ohana até Alison Pill, Jason Priestley (do seriado “Barrados no Baile”), Gael Garcia Bernal e Tyler Labine (que é a “cara" de Jack Black). Apenas lembra. Aqui, questiona-se as “besteiras" Hollywoodianas (para “todo mundo ficar feliz”), o universo de criação (com suas adaptações e mudanças repentinas), até mesmo o clichê “preconceituoso" para criticar gatilhos comuns e reviravoltas (como o traficante negro; e ou um Rio de Janeiro decadente e meio Amazônia “cidade sem lei”; clichês de reações da raiva; a clínica de estética para aumentar os seios - ficando assim “pegável”, como uma “boneca") mostrando assim a visão estrangeira em “estereotipar" com o intuito de “entreter” de forma fácil e palatável o espectador. Até o meio para o final, não há como identificar estes elementos (que ainda inclui atmosfera noir policial de mistério à moda de Kevin Smith - como uma empresa de bonecas idênticas a pessoas; sotaques de um inglês “forçado” - inclusive dos próprios canadenses; digressões perdidas e soltas; e desenhos animados que ganham histórias paralelas), e então quando a percepção direcional acontece, somos surpreendidos positivamente. “Zoom" assume o conceito de gênero, assumindo seu lado independente de não simplificar o andamento do objetivo. Mas é quando “mergulha" sem medos e ressalvas na “loucura Kafkaniana” (das questões existencialistas mundanas, cotidianas e cinematográficas), é que “encontra” a plenitude de seu equilíbrio. Recomendado.
ZOOM
(2016, 98 minutos)
(2016, 98 minutos)
Direção e Roteiro
Pedro Morelli
Elenco
Mariana Ximenes
Alison Phil
Gael Garcia Bernal
em cartaz nas Redes Roxy, Cinemark e Cinespaço
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