Wednesday, March 2, 2016

DJAVAN EM SANTOS - SÁBADO, 5 DE MARÇO MENDES CONVENTION CENTER - 22 HORAS


INGRESSOS AQUI

Banda
Carlos Bala (bateria)
Jessé Sadoc (flügelhorn, trompete e vocal)
Marcelo Mariano (baixo e vocal)
Marcelo Martins (flauta, saxofone e vocal)
Paulo Calasans (teclados e piano)

João Castilho (guitarras e violões)
Direção
Djavan

Direção de Arte
Suzane Queiroz

Iluminação
Binho Schaefer

Figurino
Roberta Stamato



Entrevista para Antonio Amaral Rocha
(Rolling Stone BR)


Vidas pra Contar, seu vigésimo terceiro disco, pode ser definido como um disco autobiográfico?

Não chega a tanto, apesar de este ser meu disco mais autobiográfico. Porque, em geral, eu não falo muito de mim nas canções. Invento situações com as quais as pessoas se identificam ou não. É a coisa do inventar, do criar. Mas neste disco eu tive vontade de falar da minha mãe, das minhas memórias do Nordeste. Da minha mãe, por exemplo, o que falar? Sobre a influência dela sobre mim com relação à musica. Foi ela que me alertou para isso, que me falou, quando eu era ainda muito jovenzinho, sobre a minha vocação, que eu tinha uma vozinha bonitinha. Eu já tinha contado sobre isso em entrevistas, mas nunca tinha trazido para a música, e agora eu resolvi escrever uma canção sobre isso. Eu comento a influência dos cantores de que ela gostava e que colocava para eu ouvir também.

O trabalho se parece com um disco de banda. Da forma que foi arranjado e gravado está pronto para ser levado ao palco sem dificuldades, sem busca de efeitos e firulas. Isso procede?

Você tem toda razão. E essa sua observação é maravilhosa por que está se refletindo agora. Eu estou em estúdio ensaiando o disco. A fluidez que está acontecendo nesses ensaios é de tal ordem que eu estou assustado. Eu falei para os meninos: “Gente, vocês viram como estamos fazendo tudo com os pés nas costas?” Porque é um disco orgânico. É um disco onde tudo o que está lá é real, vivo, não têm subterfúgios ou truques.

E ele poderá ser levado para o palco tal qual está.

Exatamente. E é a mesma banda que vai para a estrada. Eu costumo fazer isso, levo a mesma banda, engenheiro de gravação, assessor do engenheiro... o mesmo grupo que fez o disco comigo vai para a estrada.

Você abre o disco com “Vida Nordestina” que é um xote. É uma homenagem às suas raízes e um tributo a Luiz Gonzaga?

Totalmente. Eu fiz essa música quando comecei a conjecturar sobre a minha vida no Nordeste, a região do Brasil que mais amo, com que eu mais me identifico. Não só por ser nordestino, mas porque eu gosto das nuances, da comida, do sotaque, a qualidade do povo, e também da música. Foi ali que eu formatei a minha canção e comecei a vislumbrar que a diversidade seria o meu foco para sempre. Eu quis fazer isso e daí me lembrei dos grandes que cantaram o Nordeste, dentre eles, o maior de todos, que é Luiz Gonzaga. Diante de um quadro como este é uma ousadia tentar fazer uma música falando do Nordeste, mas eu optei por falar da religiosidade, dos folguedos, da festa, do povo com relação ao cotidiano. Acho que acabei tendo um resultado muito interessante e resolvi abrir o disco com ele (e também porque achei que seria inesperado abrir o disco com um xote).

O tema “O Tal do Amor” é uma canção com traços Jobinianos.

Tem uma aura europeia que era o que queria, uma aura francesa, mais especificamente. Eu usei um acordeom francês. Acho que atingi o objetivo.

Em Vidas pra Contar existe uma homenagem à sua mãe em “Dona do Horizonte” e uma referência à tradição, lembrando os ídolos do rádio da década de 1950: Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Gonzaga, Orlando Silva.

Isso vem da minha mãe, ela passou para mim. São pessoas que ela amava e ela me fez ouvir. Isso me deu uma boa base, com 6, 7 anos de idade. São os ídolos da minha mãe.

Tem também algumas coisas que sua mãe colocava como previsão e desejo. Ela acertou no que ela previu para você?

Eu acho que sim, porque na verdade não é nem uma coisa pretensiosa. Eu estou falando ali do que ela falava, da expectativa dela em relação a mim. Ela dizia “Quero vê-lo o mais querido, como o nosso Orlando”, ou “Quero ver seu nome em placas de avenida”. Isso era uma coisa que ela me dizia mesmo, achava que isso iria acontecer.

Você percebe influências enquanto está compondo?

Não, a canção vai nascendo e uma coisa que eu costumo fazer é deixar com que nasça livre, sem tanta condução. A tendência vai se formando. Eu não penso “eu vou fazer um samba”, ele acontece. Aquilo vai crescendo e tomando o seu próprio jeito, eu vou apenas formatando e contribuindo com os elementos que sei que serão necessários para que a tendência se concretize.

Já se delineia também a ideia de arranjo, junto à canção?

A coisa do arranjo é muito estranha. Às vezes, quando estou fazendo a faixa, já estou tendo ideias de arranjo e tomo cuidado para não confundir frases melódicas de arranjos com frases melódicas da música. Como eu sou também o arranjador das canções, isso acontece muito. Eu me policio para não deixar a canção ser invadida por frases melódicas de arranjo.

Os seus temas são na maioria das vezes, são o amor, os encontros, os desencontros.

O amor é um tema recorrente, universal, é o tema que rege todas as canções do mundo. E esse tema talvez seja o mais difícil de se abordar, exatamente por essa recorrência tão grande. E isso é extremamente instigante para quem escreve, porque é um desafio. Você está sempre desafiado a trazer novas nuances, novas sensações, abranger outras questões que envolvam o encontro e o desencontro, o amor não correspondido, o pré-amor, o amor adolescente, o amor maduro, o desamor. É um universo inesgotável de inspiração.

Você já declarou que sempre faz a música antes. Quando você está compondo, já sabe de antemão do que vai tratar?

Em alguns casos sim, mas geralmente, não. Eu acho isso ótimo. É aquilo: 40 anos de carreira e você quer se surpreender o tempo todo, se instigar, motivar. E essa área movediça que você habita enquanto está fazendo algo é uma graça, é maravilhoso.

O interesse dos músicos internacionais, especialmente do jazz, pela sua música continua crescendo?

Continua. Inclusive eu tenho até a possibilidade (está apalavrado isso), de fazer uma turnê com um grupo de músicos de jazz nos Estados Unidos, mas enho priorizado tocar com músicos brasileiros. Não sei nem se farei um dia, mas é uma coisa que está em aberto e imagino que farei um bom trabalho com esses músicos.

Neste disco, assim como na maioria de seus lançamentos, só têm composições próprias. Você não gosta de parcerias?

Acho que parceria é uma coisa que envolve o mínimo de relação. Você tem que estar com a pessoa, ter alguma coisa que seja compatível , do ponto de vista do jeito de ser, musical, pessoal, tudo. Mas eu não evito, faço sozinho porque sempre fiz assim, desde o início, e gosto. Tenho parcerias com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Aldir Blanc... Mas, para mim, é um prazer imenso fazer a música, depois fazer a letra. 

Quanto de importância você dá aos seus prêmios Grammy Latino?

Minha relação com o Grammy é antiga. Recebi o primeiro em 2000, com a canção “Acelerou”. Em 2010, ganhei o [prêmio] de Melhor Disco por Ária e, em 2015, pelo conjunto da obra. É um verdadeiro presente para quem trabalha fazendo música há 40 anos.

Falou-se bastante sobre racismo nos últimos tempos, mas pouca coisa mudou. A sociedade brasileira ainda é muito preconceituosa?

O preconceito, sobretudo racial, está na cultura do brasileiro. É enraizado e começou na formação da sociedade, com a vinda dos portugueses e dos escravos. Ali se formou o conceito de que o negro era intelectualmente inferior e que existia só para servir. Eu fui vítima de racismo quando fui preso em São Paulo, em 1979. Os guardas diziam: ‘Esse negro vai cantar na cadeia com esse cabelo estranho’. Foi algo violento, dando a conotação de que a [razão para a] prisão era apenas o fato de eu ser negro.



No comments:

Post a Comment