por Bruno Silva para Omelete
“As Sufragistas” reflete bem o espírito dos tempos atuais, em especial do último ano, que testemunhou o avanço do feminismo nas redes sociais e nas artes. O filme é estrelado, escrito, dirigido e produzido por mulheres, num exemplo claro de que o empoderamento feminino de sua trama não deve ficar só na retórica.
De fato, a produção supre uma imensa lacuna, levando até a a questionar por que há tão poucos trabalhos sobre a ascensão histórica do feminismo. Afinal, se a mulher hoje pode votar, exercer o seu direito de cidadania e assumir cargos públicos é por causa do esforço e do sacrifício dessas pioneiras que perderam a família, os empregos e até mesmo a própria vida para que o sonho de uma vida digna fosse materializado.
Dirigido por Sarah Gavron (“Brick Lane”) e escrito por Abi Morgan (roteirista de “Shame” e “A Dama de Ferro”), “As Sufragistas” acompanha a jornada de Maud Watts, interpretada de forma inspirada pela bela e talentosa Carey Mulligan (“O Grande Gatsby”). Maud é uma jovem que trabalha como lavadeira em uma empresa administrada por um homem acostumado a abusar sexualmente de suas empregadas. E, ao chegar cansada do trabalho, ainda tem que cuidar do filho e do marido (Ben Wishaw, de “007 Contra Spectre”).
Ela encontra uma razão para viver ao se aliar a um grupo de mulheres rebeldes que praticam a desobediência civil para chamar a atenção da sociedade. Se com palavras ninguém as ouve, por que não quebrar vidraças, incendiar caixas postais e, se necessário, até mesmo ir para a cadeia para deixarem de ser ignoradas?
Um dos pontos mais interessantes da produção está na forma como os investigadores de polícia, encabeçados pelo ótimo Brendan Gleeson (“O Guarda”), tratam o vandalismo femininista como atos de extrema periculosidade, como se aquelas mulheres fossem agentes subversivos ou algo do tipo. De certa forma, os protestos não deixam mesmo de representar uma ameaça para a sociedade machista, que via aqueles protestos como imorais, por sugerirem que as mulheres deixassem de se manter passivas diante da lei e da cultura opressoras.
O maior perigo que “As Sufragistas” corre, porém, é pintar os homens de forma excessivamente caricata. A única exceção é o farmacêutico casado com a personagem de Helena Bonham Carter (“Os Miseráveis”), que apoia as ações da esposa, uma das líderes do movimento sufragista. Outra líder, por sinal, é vivida por Meryl Streep (“A Dama de Ferro”).
O filme podia obter melhor resultado do ponto de vista artístico, mas, ainda que abrace uma narrativa convencional, a diretora Sarah Gavron se sai bem, tanto na criação de suas adoráveis e corajosas personagens quanto no cuidadoso trabalho de reconstituição de época. Além disso, serve como lição de História e permite o debate de uma importante questão sociocultural.
De fato, a produção supre uma imensa lacuna, levando até a a questionar por que há tão poucos trabalhos sobre a ascensão histórica do feminismo. Afinal, se a mulher hoje pode votar, exercer o seu direito de cidadania e assumir cargos públicos é por causa do esforço e do sacrifício dessas pioneiras que perderam a família, os empregos e até mesmo a própria vida para que o sonho de uma vida digna fosse materializado.
Dirigido por Sarah Gavron (“Brick Lane”) e escrito por Abi Morgan (roteirista de “Shame” e “A Dama de Ferro”), “As Sufragistas” acompanha a jornada de Maud Watts, interpretada de forma inspirada pela bela e talentosa Carey Mulligan (“O Grande Gatsby”). Maud é uma jovem que trabalha como lavadeira em uma empresa administrada por um homem acostumado a abusar sexualmente de suas empregadas. E, ao chegar cansada do trabalho, ainda tem que cuidar do filho e do marido (Ben Wishaw, de “007 Contra Spectre”).
Ela encontra uma razão para viver ao se aliar a um grupo de mulheres rebeldes que praticam a desobediência civil para chamar a atenção da sociedade. Se com palavras ninguém as ouve, por que não quebrar vidraças, incendiar caixas postais e, se necessário, até mesmo ir para a cadeia para deixarem de ser ignoradas?
Um dos pontos mais interessantes da produção está na forma como os investigadores de polícia, encabeçados pelo ótimo Brendan Gleeson (“O Guarda”), tratam o vandalismo femininista como atos de extrema periculosidade, como se aquelas mulheres fossem agentes subversivos ou algo do tipo. De certa forma, os protestos não deixam mesmo de representar uma ameaça para a sociedade machista, que via aqueles protestos como imorais, por sugerirem que as mulheres deixassem de se manter passivas diante da lei e da cultura opressoras.
O maior perigo que “As Sufragistas” corre, porém, é pintar os homens de forma excessivamente caricata. A única exceção é o farmacêutico casado com a personagem de Helena Bonham Carter (“Os Miseráveis”), que apoia as ações da esposa, uma das líderes do movimento sufragista. Outra líder, por sinal, é vivida por Meryl Streep (“A Dama de Ferro”).
O filme podia obter melhor resultado do ponto de vista artístico, mas, ainda que abrace uma narrativa convencional, a diretora Sarah Gavron se sai bem, tanto na criação de suas adoráveis e corajosas personagens quanto no cuidadoso trabalho de reconstituição de época. Além disso, serve como lição de História e permite o debate de uma importante questão sociocultural.
"AS SUFRAGISTAS": ENTRE O DOCUMENTÁRIO E O DRAMA
por Ailton Monteiro para Pipoca Moderna
por Ailton Monteiro para Pipoca Moderna
As Sufragistas (Sufragette) pode contar uma história que se passou há mais de cem anos, mas sua carga de urgência e necessidade de mudança é completamente atual. Em uma época na qual igualdade de salários, representatividade e respeito figuram entre os principais objetos de luta das mulheres - que, frequentemente, costumam ser taxadas de “exageradas” pelos preconceituosos de plantão -, este longa vem para mostrar que, há pouco tempo (ao menos numa perspectiva histórica), esta mesma luta era voltada ao direito ao voto.
O longa faz um recorte de uma das campanhas do movimento sufragista, encampado por mulheres da Inglaterra e dos Estados Unidos para garantir o sufrágio (direito ao voto em eleições políticas). Cansadas de protestar pacificamente e ouvir não dos homens que lideram o país, as mulheres partem para a desobediência civil, sendo brutalmente reprimidas pela polícia.
Para contar esta história, Sufragistas fica no meio termo entre o registro histórico e o drama pessoal. O roteiro de Abi Morgan segue o caminho padrão de apresentar a causa e os conflitos a um personagem inteiramente alheio a eles. No início, a protagonista Maud Watts (Carrie Mulligan, em excelente atuação), uma jovem operária preocupada apenas com o bem estar do filho e do marido (que trabalha menos horas no mesmo local e ganha mais), não quer confusão.
Não demora muito o destino puxar Mulligan (e o telespectador) para o meio do conflito, junto a outras mulheres (dentre as quais está Helena Bonham Carter, também excelente). Mas o roteiro e a ótima direção de Sarah Gavron o fazem de uma ótima forma, pois despertam, ao mesmo tempo, a revolta na protagonista e no espectador diante da injustiça e da violência contra a mulher, tanto física quanto moral.
As Sufragistas renega o tom exageradamente emocional dos filmes de luta por direitos hollywoodianos e mostra tudo com uma sobriedade assustadora e poderosa. O preço para lutar pelo sufrágio universal, como Maud descobre bem cedo, é ser assediada, espancada, encarcerada e, ainda por cima, ser vista como uma pária na família, por deixar de exercer o esperado papel de “boa mãe e boa esposa”.
Embora o lado pessoal da luta de Maud e das sufragistas seja forte e necessário, ele atrapalha um pouco o lado de “registro histórico”, pois faz a protagonista e o espectador ficarem sempre à margem dos principais eventos e personagens do movimento sufragista: Emmeline Pankhurst, uma das fundadoras do movimento e mentora intelectual de todas as personagens, é perseguida pela polícia e mal aparece em cena (talvez, para dar a possibilidade de Meryl Streep participar do filme sem comprometer muito a agenda).
Ainda que fique no meio termo entre o documentário e o drama, As Sufragistas acerta em cheio ao instigar, acima de tudo, o incômodo no telespectador em frente à injustiça contra as mulheres e ao mostrar que, apesar de todas as conquistas, que a luta ainda continua.
AS SUFRAGISTAS
(Sufragette, 2015, 106 minutos)
Direção
Sarah Gavron
Roteiro
Abi Morgan
Elenco
Carey Mulligan
Helena Bonham Carter
Meryl Streep
Ben Whishaw
Brendan Gleeson
Romola Garai
Anne-Marie Duff
em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
O longa faz um recorte de uma das campanhas do movimento sufragista, encampado por mulheres da Inglaterra e dos Estados Unidos para garantir o sufrágio (direito ao voto em eleições políticas). Cansadas de protestar pacificamente e ouvir não dos homens que lideram o país, as mulheres partem para a desobediência civil, sendo brutalmente reprimidas pela polícia.
Para contar esta história, Sufragistas fica no meio termo entre o registro histórico e o drama pessoal. O roteiro de Abi Morgan segue o caminho padrão de apresentar a causa e os conflitos a um personagem inteiramente alheio a eles. No início, a protagonista Maud Watts (Carrie Mulligan, em excelente atuação), uma jovem operária preocupada apenas com o bem estar do filho e do marido (que trabalha menos horas no mesmo local e ganha mais), não quer confusão.
Não demora muito o destino puxar Mulligan (e o telespectador) para o meio do conflito, junto a outras mulheres (dentre as quais está Helena Bonham Carter, também excelente). Mas o roteiro e a ótima direção de Sarah Gavron o fazem de uma ótima forma, pois despertam, ao mesmo tempo, a revolta na protagonista e no espectador diante da injustiça e da violência contra a mulher, tanto física quanto moral.
As Sufragistas renega o tom exageradamente emocional dos filmes de luta por direitos hollywoodianos e mostra tudo com uma sobriedade assustadora e poderosa. O preço para lutar pelo sufrágio universal, como Maud descobre bem cedo, é ser assediada, espancada, encarcerada e, ainda por cima, ser vista como uma pária na família, por deixar de exercer o esperado papel de “boa mãe e boa esposa”.
Embora o lado pessoal da luta de Maud e das sufragistas seja forte e necessário, ele atrapalha um pouco o lado de “registro histórico”, pois faz a protagonista e o espectador ficarem sempre à margem dos principais eventos e personagens do movimento sufragista: Emmeline Pankhurst, uma das fundadoras do movimento e mentora intelectual de todas as personagens, é perseguida pela polícia e mal aparece em cena (talvez, para dar a possibilidade de Meryl Streep participar do filme sem comprometer muito a agenda).
Ainda que fique no meio termo entre o documentário e o drama, As Sufragistas acerta em cheio ao instigar, acima de tudo, o incômodo no telespectador em frente à injustiça contra as mulheres e ao mostrar que, apesar de todas as conquistas, que a luta ainda continua.
AS SUFRAGISTAS
(Sufragette, 2015, 106 minutos)
Direção
Sarah Gavron
Roteiro
Abi Morgan
Elenco
Carey Mulligan
Helena Bonham Carter
Meryl Streep
Ben Whishaw
Brendan Gleeson
Romola Garai
Anne-Marie Duff
em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
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