por Antonio Luiz Nilo
E a conversa começou a esquentar:
"Ô Beto, quem disse que o PT tirou o brasileiro da pobreza? O povo continua na merda. Bolsa Família é pura enganação, é dar dinheiro pra vagabundo em troca de voto. Só você, ingênuo, é que acredita nisso."
"Ingênuo é você, Rodrigo. O PT fez, e tá fazendo, o melhor governo social da história desse país. Hoje, pobre pode andar de avião, pode comprar carro. Vocês, da elite branca de olhos azuis, nunca vão entender isso."
"Vai se foder, Beto. E eu lá sou elite? Ganho menos do que você que faz militância pra esses canalhas que queimam a bandeira brasileira na rua. Você é um otário."
"E você é um fascista de merda. Criado pela vovó, só comendo sucrilhos e esculhambando os empregados."
"Cara, deixa de ser ignorante. Não quis estudar, olha aí o que aconteceu: virou petralha."
E gritando “Coxinha escroto”, Beto pulou por cima da mesa do bar e agarrou o pescoço do “amigo”, que retribuiu com uma cabeçada bem no meio do nariz. A galera que estava na mesa conseguiu separar a briga, mas os dois continuaram a rosnar, fazendo ameaças mútuas de vingança e até de morte.
Muito bem, essa história de fato não aconteceu. Quer dizer, só não aconteceu porque não foi num bar, mas sim no facebook. Ou seja, na total segurança do mundinho virtual.
Essa conversa eu copiei de uma troca de delicadezas entre dois conhecidos meus nos comentários de uma postagem sobre as manifestações do último domingo (só suprimi os erros de concordância... de ambos os lados).
Eu fiz questão de fantasiar, ilustrar a conversa com cenas, apenas para mostrar como é fácil ter coragem nas redes sociais. Como é tranquilo poder falar o que se quer e até mesmo insultar alguém, sabendo que esse alguém vai no máximo devolver o insulto com outras palavras ofensivas. E só. Palavras que vão aparecer em seu computador ou na telinha do seu celular, mas que não são capazes de machucar, pelo menos fisicamente.
E mesmo que possam causar algum outro tipo de dor ou ressentimento, são aceitas com naturalidade, como se o ambiente virtual permitisse. Como se aqui, na internet, os limites fossem romanescos, imaginários... inalcançáveis.
Aliás, uma cena que se repete quase que frequentemente é o encontro real de dois amigos que chegaram a se ofender no facebook e que agora, na fila do supermercado ou lavando os pés no chuveiro da praia, se cumprimentam fingindo nada ter acontecido. E se algum deles, num rompante de audácia, ousa tocar no assunto, logo a conversa toma ares de chacota, de conversa fiada, e os dois procuram desviar os olhares e preservar o que ainda ficou de pé de muitos anos de amizade e companheirismo.
Que horror, meus amigos. O que será que está acontecendo? É o mundo virtual que está criando monstros online ou é a falta de coragem do ser humano que está finalmente encontrando uma válvula de escape para se manifestar com segurança?
Nesse momento de profunda divergência ideológica, as redes sociais infelizmente se transformam em arenas romanas, onde os tolos se digladiam com lanças e espadas afiadas, enquanto a maioria se diverte vendo o sangue virtual esguichar pelas timelines.
Mas, cuidado. As redes sociais não são terra-de-ninguém. Aqui também existem regras, existem leis. E as pessoas se esquecem de que o desrespeito pode ser muito mais danoso aqui do que numa mesa de bar. Até porque numa mesa de bar as palavras se evaporam com o álcool. Nas redes sociais, elas simplesmente são “publicadas”.
Antonio Luiz Nilo
nasceu em Santos
e é redator publicitário
e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais
e internacionais.
Circulou a trabalho
por todo o país,
com paradas prolongadas
em Brasília, Belo Horizonte e Salvador.
e é redator publicitário
e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais
e internacionais.
Circulou a trabalho
por todo o país,
com paradas prolongadas
em Brasília, Belo Horizonte e Salvador.
Publicou em 1986
"Poemas de Duas Gerações"
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(à venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais
na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor
da Agência de Textos
TP Texto Profissional.
"Poemas de Duas Gerações"
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(à venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais
na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor
da Agência de Textos
TP Texto Profissional.
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