Friday, March 11, 2016

CAFÉ E BOM DIA #16

por Carlos Eduardo Brizolinha


"Em si mesma, toda ideia é neutra ou deveria sê-lo; mas o homem a anima, projeta nela suas chamas e suas demências; impura, transformada em crença, insere-se no tempo, toma a forma de acontecimento: a passagem da lógica à epilepsia está consumada... Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas."
(Cioran, A Genealogia do Fanatismo)

 Emil Cioran nasceu em 1911, na Romênia, formando-se em Filosofia pela Universidade de Bucareste.

Em 1937, mudou-se para a França, onde escreveu a maior parte de sua obra.

Morreu em 1995, em Paris, legando-nos uma obra perturbadora, provocante, densa, de linguagem profundamente poética e estilo verbal arrojado e radical.

Filósofo-poeta que confronta os cumes do desespero, sonda os abismos do niilismo e ainda tem a coragem de persistir na existência ainda que considere ter nascido mais como inconveniente do que como maravilha, Cioran escreveu algumas das mais belas páginas de filosofia que conheço.

Sua escrita a marteladas às vezes tem o sabor dos melhores aforismos de Nietzsche e sua lucidez sem limites parece conduzir a extremos alguns dos convites do existencialismo Camusiano.

Sobre seu “projeto filosófico”, Cioran diz o seguinte:

“queria semear a Dúvida até nas entranhas do globo, impregnar com ela toda a matéria, fazê-la reinar onde o espírito jamais penetrou e, antes de alcançar a medula dos seres vivos, sacudir a quietude das pedras, introduzir nelas a insegurança e os defeitos do coração. Arquiteto, teria construído um templo à Ruína; predicador, revelado a farsa da oração; rei, hasteado a bandeira da rebelião. Eu teria estimulado em toda parte a infidelidade a si mesmo, impedindo multidões de corromperem-se no podredouro das certezas…”
(Cioran, Breviário de Decomposição) 

Eis aqui um autor obrigatório para vencer o utilitarismo midiático.



Li apenas dois títulos de Amin Maalouf.

O primeiro, "O Périplo de Baldassare", não gostei.

O segundo, "As Cruzadas Vistas pelos Árabes" achei muito interessante, muito pela construção de texto que propõe uma perspectiva oriental.

Muitos anos atrás li Ozzy Oldeberg, "As Cruzadas", que tenta disciplinar de forma cronológica os embates Ocidente x Oriente, considerando as vitórias e derrotas e os efeitos no ocidente.

A visão oriental que eu saiba é Amin que nos oferece.

De maneira que o livro se torna cativante pela forma que mescla crônicas da época pontificando diferenças de visão e Amin Maalouf com pleno domínio do texto.

O livro não é considerado um romance e sim ensaio.

Em "As Cruzadas Vistas pelos Árabes" nos é apresentada uma visão algo diferente das que estamos acostumados: a dos invadidos por um povo que consideram bárbaro quando comparado científica e culturalmente.

Os europeus são descritos como bárbaros, porcos, incultos e sem honra, o que face aos relatos não se pode negar totalmente.

Dei de viajar na maionese citando autores importantes e pouco lidos e faço minha as palavras de Nuccio Ordine que diz ser o saber como única maneira de desafiar as leis de mercado e o utilitarismo que domina a sociedade atual.

Educação virou comércio e propõe um uso prático, razão pela qual o prazer do conhecimento humanístico dorme sem roncar.

Bom Dia Para Todos e Café na Mesa.




Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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