Thursday, March 17, 2016

A ENCRUZILHADA MORO

por Ademir Demarchi


A Operação Lava Jato tem característica altamente moralizante, inspirada na Operação Mãos Limpas feita em Milão, contra a máfia italiana, ainda que o nome tupiniquim venha da investigação inicial de uma rede de postos de combustíveis e lavanderias, também dedicada à limpeza, digamos assim. Curiosamente, como tudo no Brasil que faz as coisas tenderem à piada, e, nesse caso, piada à moda portuguesa, a expressão correta que seria “lava a jato”, com rapidez e com um aparelho que jateia água, virou outra coisa, ou seja, suprimiu-se o artigo “a” da expressão e passou-se a lavar o veículo jato, que, sendo rápido, acabou aprisionado em um estertor sem fim ao ser “lavado” em banho-Maria... Pois lavar sujeira é a ordem do dia no lava-aviões ou lava-gralhas da república dos pinheirais que, pretensiosa, anda em busca de um upgrade para começar a lavar discos voadores, mesmo os com aplique de teflon, aquele produto inventado pela Nasa para fazer foguete a prova de grude. Com sua palavra de ordem, a primeira instância ganhou a simpatia das ruas, que vem depurando o verde-amarelo, agora já com menos saudade da ditadura como há uns meses, mas representando ainda apenas 2% da população do país e um tanto cega, como o bando do outro lado, de lulistas raivosos. Sob Moro, que andou saindo em fotos com gente do PSDB, pesa a dúvida se o que faz é partidarizado, contra apenas o PT, o que falsearia sua pretensa moralização. Por isso esta semana ele chegou a uma interessante encruzilhada. Com a delação premiada de Delcídio, Aécio foi muito citado, agora pela quinta vez na Operação e, além disso, escorraçado pelos verde-amarelistas da Paulista, juntamente com Alckmin, cujo governo está manchado pelo roubo da merenda escolar justamente daqueles alunos que resistiram à sua política de educação mal-explicada e autoritária como é a polícia que ele comanda para bater em estudantes e manifestantes e eliminar pessoas. Se Moro ignorar as denúncias e mais uma vez teflonar Aécio estará assinando sua entrada para o rodapé da História, preso nessa lógica moralista que fecha o foco num só e deixa de constatar como o sistema funciona. Estará repetindo, com isso, o que aconteceu com Getúlio, com JK, com Jango, que são lembrados pela História enquanto os que os perseguiram vêm sendo paulatinamente esquecidos. O PSDB, assim como o PMDB, fazem parte dessa sujeira toda de forma igual e é preciso que sejam também investigados para que haja um reequilíbrio das forças políticas e se alcance uma saída para a crise, mas, sobretudo, dessa alucinação em que todos os políticos estão, afastados da população que deveriam representar, ainda que eu não acredite que isso melhore, uma vez provado que são majoritariamente picaretas. Moro, por enquanto, tem se comportado como Torquemada, o chefe da Inquisição espanhola que, em nome da moralização, levava à fogueira ilustres católicos com base em fofocas e denúncias, expondo-os antes nas vias públicas vestidos com sambenitos, um hábito em forma de saco enfiado nos que caminhavam para o fogo em praça pública, hoje atualizado nesses agentes da PF vestidos com trajes de selva, algemas e outras formas de coerção ilegais, como aquela aplicada em Lula. Moro, por isso, nessa encruzilhada, corre o risco de se tornar o quarto pateta... uma espécie de Torquemada caipira dos pinheirais, assim como terá a oportunidade de ser outra coisa e manter-se acima da sujeira e ampliar o foco de investigação e punição, ajudando a fortalecer as instituições que vão até que bem após a ditadura, desde que não se patrocine um golpe por parte daqueles que não aceitam o processo até agora democrático de deixar governar e disputar eleições.


(Nota do Editor: As idéias defendidas neste artigo são de inteira responsabilidade de quem o assina, Ademir Demarchi, e não refletem a opinião de LEVA UM CASAQUINHO, que, democraticamente, apenas as publica, conforme acordado com o autor do texto)

Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho


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