por Chico Marques
Nesses dias em que Cuba volta ao noticiário mundial graças à visita de Barack Obama, e poucos dias depois de sua partida ficamos sabendo de que Fidel Castro não está gostando nem um pouco do que está acontecendo em "sua ilha", é mais e mais necessário resgatar o legado do escritor cubano que foi o mais ferrenho opositor dp Castrismo, que dedicou toda a sua obra literária a falar de uma Havana que ele amava demais, e que desapareceu pouco a pouco depois da Revolução de 1959.
Nesses dias em que Cuba volta ao noticiário mundial graças à visita de Barack Obama, e poucos dias depois de sua partida ficamos sabendo de que Fidel Castro não está gostando nem um pouco do que está acontecendo em "sua ilha", é mais e mais necessário resgatar o legado do escritor cubano que foi o mais ferrenho opositor dp Castrismo, que dedicou toda a sua obra literária a falar de uma Havana que ele amava demais, e que desapareceu pouco a pouco depois da Revolução de 1959.
Sim, estamos falando, claro, de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), certamente o maior escritor que Cuba já produziu. De verdade. É que Italo Calvino nasceu na Ilha, mas não tem uma identidade cubana e nem ao menos escreve em espanhol -- é um escritor italiano. E Roberto Bolaño (1953- 2003), muito festejado em romances como Os Detetives Selvagens, revelou-se um escritor de fôlego curto nos anos seguintes, priorizando coleções de contos e empenhando muito de seu talento e de seu vigor artístico em aventuras literárias duvidosas.
O caso é que quando foi lançado o primeiro romance de Cabrera Infante, Três Tristes Tigres (1965), ficou evidente logo de cara que, diante de tamanha riqueza literária, qualquer outro escritor cubano exilado que se habilitasse a disputar o posto principal na mesma cena editorial jamais conseguiria equiparar-se a ele. A grandeza artística de Guillermo Cabrera Infante tamanha que até mesmo seus antagonistas políticos sempre foram unânimes em afirmá-la como tal.
Três Tristes Tigres foi o romance que apresentou Guillermo Cabrera Infante aos brasileiros em 1980, através da Editora Global, que entregou os originais a uma tradutora, Stella Leonardos, que mergulhou de cabeça nas investigações literárias de natureza joyceana do autor pelos estilos de vários escritores de língua inglesa e espanhola, tentando preservá-los a qualquer custo na edição brasileira. Apesar do sucesso do livro em seu lançamento, o trabalho para traduzí-lo foi tão árduo e demorado que só a abnegada Stella Leonardos parecia se habilitar a traduzir o restante de sua obra -- mesmo assim, em seu timing pessoal, sem aqueles deadlines cruéis que as editoras normalmente impõem a seus tradutores.
O caso é que quando foi lançado o primeiro romance de Cabrera Infante, Três Tristes Tigres (1965), ficou evidente logo de cara que, diante de tamanha riqueza literária, qualquer outro escritor cubano exilado que se habilitasse a disputar o posto principal na mesma cena editorial jamais conseguiria equiparar-se a ele. A grandeza artística de Guillermo Cabrera Infante tamanha que até mesmo seus antagonistas políticos sempre foram unânimes em afirmá-la como tal.
Três Tristes Tigres foi o romance que apresentou Guillermo Cabrera Infante aos brasileiros em 1980, através da Editora Global, que entregou os originais a uma tradutora, Stella Leonardos, que mergulhou de cabeça nas investigações literárias de natureza joyceana do autor pelos estilos de vários escritores de língua inglesa e espanhola, tentando preservá-los a qualquer custo na edição brasileira. Apesar do sucesso do livro em seu lançamento, o trabalho para traduzí-lo foi tão árduo e demorado que só a abnegada Stella Leonardos parecia se habilitar a traduzir o restante de sua obra -- mesmo assim, em seu timing pessoal, sem aqueles deadlines cruéis que as editoras normalmente impõem a seus tradutores.
Felizmente, no final dos Anos 1980, a Companhia das Letras adquiriu os direitos da vários títulos de Guillermo Cabrera Infante e deu um fim a esse impasse, não medindo esforços em providenciar traduções de gabarito para obras como Havana Para Um Infante Defunto e Mea Cuba, onde memórias se misturam com ficção num jogo literário-cinematográfico que deixou marcas profundas em toda a prosa pós-moderna surgida na literatura de língua espanhola nos últimos 35 anos. Dessa iniciativa louvável da Companhia das Letras para cá, publicar as obras de Cabrera Infante deixou de ser um bicho de sete cabeças, e tornou-se uma constante para os editores brasileiros, que passaram, de repente, a disputar a tapa suas obras em feiras literárias internacionais.
Quando Guillermo Cabrera Infante morreu em 2005 em Londres, aos 75 anos de idade, deixou dois romances autobiográficos para serem publicados postumamente.
O primeiro deles foi o belíssimo A Ninfa Inconstante, publicado em 2008, que a Companhia das Letras lançou aqui em 2011.
E o segundo, Corpos Divinos, publicado em 2010, chega agora finalmente, também pela Companhia.
Quem está habituado às investidas memorialistas mescladas com ficção moderna que tanto agradavam ao autor vai ficar extasiado, pois aqui ele reconstitui o início de 1957 e os primeiros meses de 1959, quando Cuba experimentou sua Revolução, e a maneira como são narradas as turbulências deste período põe em evidência todas as suas qualidades principais como escritor: a elegância da escrita -- que flui entre a dicção refinada e o registro popular --, os saborosos jogos de palavras, as referências literárias, musicais e cinematográficas, o humor irônico e um erotismo onipresente.
O primeiro deles foi o belíssimo A Ninfa Inconstante, publicado em 2008, que a Companhia das Letras lançou aqui em 2011.
E o segundo, Corpos Divinos, publicado em 2010, chega agora finalmente, também pela Companhia.
Quem está habituado às investidas memorialistas mescladas com ficção moderna que tanto agradavam ao autor vai ficar extasiado, pois aqui ele reconstitui o início de 1957 e os primeiros meses de 1959, quando Cuba experimentou sua Revolução, e a maneira como são narradas as turbulências deste período põe em evidência todas as suas qualidades principais como escritor: a elegância da escrita -- que flui entre a dicção refinada e o registro popular --, os saborosos jogos de palavras, as referências literárias, musicais e cinematográficas, o humor irônico e um erotismo onipresente.
Trabalhando em Havana como jornalista, o narrador, que é crítico de cinema da revista Carteles, mas cujo nome desconhecemos, participa lateralmente do movimento clandestino pela derrubada da ditadura de Fulgencio Batista, enquanto nas serras Fidel Castro e seus companheiros avançam com sua guerrilha. Mas, de início, os fatos políticos são apenas o pano de fundo das aventuras e desventuras amorosas e profissionais do protagonista. Conforme se aproxima a queda de Batista, com a consequente tomada de poder pelos revolucionários, a história política vai assumindo o primeiro plano, uma vez que o protagonista-narrador é engolido pelos acontecimentos, chegando a dirigir a revista de cultura do jornal oficial do novo regime, Revolución, e a acompanhar a delegação de Fidel Castro em sua primeira viagem internacional como governante, aos Estados Unidos, ao Canadá e à América Latina.
Corpos Divinos começa como um romance sobre um sujeito casado que se apaixona por uma moça de 17 anos, e pouco a pouco vai se transformando em um caleidoscópio de emoções políticas, sexuais e audiovisuais.
`Para quem não sabe, em Cuba qualquer homem que mantinha relações sexuais com uma menor tinha de casar-se com ela obrigatoriamente, ou iria preso. Daí, acompanhamos o modo sui-generis com que nosso herói lida essa situação até o momento em que a moça finalmente sai de sua vida. Acreditem, é muito divertido.
Em Corpos Divinos, como não podia deixar de ser num romance de Cabrera Infante, o sexo surge como elemento catalizador na medida em que o narrador extravasa por ele tanto seu entusiasmo revolucionário quanto seus medos e decepções existenciais.
Cabrera Infante tenta revelar em sua narrativa as diversas revoluções que estavam embutidas no processo que levou Fidel ao poder, e mergulha de cabeça no clima de tensão política instalado na época, com fugitivos escondendo-se na casa de amigos, pessoas desaparecendo e manifestos clandestinos circulando. Tudo isso em meio a muito cinema e muito jazz ecoando pelas esquinas de sua mente literária privilegiadíssima.
Se você nunca leu nada de Guillermo Cabrera Infante e só o conhece de ouvir falar como "aquele escritor cubano exilado na Inglaterra que Fidel ama odiar", prepare-se para uma grata surpresa.
Já se você for um habituée da obra deste grande mestre, prepare-se para se despedir dele e de seu universo temático de forma emocionante neste romance encantador e, infelizmente, derradeiro.
CORPOS DIVINOS
(Cuerpos Divinos)
Guillermo Cabrera Infante
tradução
Josely Vianna Baptista
Editora
Companhia das Letras
Capa
Raul Loureiro
624 páginas
Editora
Companhia das Letras
Capa
Raul Loureiro
624 páginas
R$74,90 (livro)
R$39,90 (ebook)
R$39,90 (ebook)
Chico Marques devora livros
desde que se conhece por gente.
Estudou Literatura Inglesa
na Universidade de Brasília
e leu com muito prazer
uma quantidade considerável
de volumes da espetacular
Biblioteca da UnB.
Vive em Santos SP, onde,
entre outros afazeres,
edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
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