por Davi Gonçalves para CCine10
Eu já disse em outras ocasiões que foi-se a época em que animação era coisa de criança. Hoje em dia, é mais provável você encontrar uma multidão de marmanjos nas filas de desenhos animados – e as produtoras apostam cada vez mais neste segmento. Astérix e o Domínio dos Deuses, nova adaptação das histórias dos heróis Astérix e Obelix, é prova irrefutável de que este gênero pode agradar a todas as idades, de forma inteligente e divertida.
O roteiro nos transporta para os anos 50 antes de Cristo. A Gália está toda ocupada pelos romanos, com exceção de um pequeno vilarejo habitado por gauleses irredutíveis e que não cedem à pressão de Julio César. Cansado das tentativas frustradas, o governador decide inverter a estratégia, construindo um complexo de luxo (o “Domínio dos Deuses”) ao lado da aldeia gaulesa e, assim, impressiona-los e convencê-los a unirem-se a Roma. No entanto, os amigos Astérix e Obelix permanecem inflexíveis e terão que fazer de tudo para manter os romanos longe de sua comunidade.
Nono filme animado da franquia, Astérix e o Domínio dos Deuses consegue unir com competência dois ingredientes que garantem seu sucesso: o apelo infantil (responsável por sequências nonsenses e “fofas”, capazes de agradar os pequenos) e os gags de humor voltados ao público mais adulto, onde a narrativa aposta em piadas de caráter satírico para criticar a falência de algumas instituições dentro do atual cenário francês – entre elas, a estupidez e despreparo da polícia, a burocracia das leis e a hipocrisia e arrogância dos políticos contemporâneos. A sátira pode até passar despercebida para as crianças, mas é provável que os pais se deliciem com as boas sacadas cômicas.
Infelizmente, o filme perde o fôlego em determinado momento (em que até mesmo a fotografia escura chega a incomodar), mas se recupera no desfecho – deveras infantil e fácil, mas nem por isso menor. Com bom planos que valorizam as cores e o cenário computadorizado (que inclusive pode ser conferido em terceira dimensão), Astérix e o Domínio dos Deuses nos traz ainda os carismáticos personagens dos quadrinhos criados por Albert Uderzo e René Goscinny, em uma aventura que é uma ótima opção de entretenimento para toda a família.
ASTERIX ESTÁ DE VOLTA À TELA GRANDE NUMA BATALHA IDEOLÓGICA
por Francisco Russo para AdoroCinema
Ler as histórias de Asterix – e todos seus derivados, como filmes live action e de animação – é a chance não apenas de se divertir, mas também de conhecer um pouquinho mais da história da civilização. Afinal de contas, os personagens criados pela dupla Albert Uderzo e René Goscinny são reflexo direto do imperialismo econômico e cultural dos Estados Unidos perante o mundo, travestido através do conflito existente entre o Império Romano e a aldeia dos irredutíveis gauleses – leia-se alter ego da França. A luta pela liberdade é também um grito desesperado pela manutenção de seus ideais e crenças, sejam eles quais forem, perante um oponente bem mais poderoso e influente. Se em grande parte das histórias publicadas já é possível notar este subtexto, em Asterix e o Domínio dos Deuses ele fica ainda mais incisivo do que o habitual – e é este um dos motivos que o tornam tão saboroso.
Tudo porque, desta vez, o imperador Júlio César decide usar a seu favor um plano ardiloso e ambicioso envolvendo as tentações do capitalismo. Ou seja, ao invés de usar a força bruta para invadir o local e expulsar os gauleses – o que sempre dá errado, graças à famosa poção mágica do druida Panoramix -, o plano desta vez é construir ao lado da aldeia um condomínio luxuoso, com todo o requinte da vida moderna nos anos 50 A.C. É a deixa perfeita para que Uderzo e Goscinny liberem com habilidade diversas cutucadas envolvendo ambição, qualidade de vida, exploração e especulação imobiliária.
Um exemplo é o modo como são tratados os escravos, que, por mais que consigam a alforria graças aos trabalhos executados na construção do Domínio dos Deuses, permanecem presos devido às amarras invisíveis causadas pelas minúcias do capitalismo. O mesmo vale para o mercado de peixe que surge na aldeia gaulesa, graças à presença cada vez maior de “turistas” romanos. Em decorrência da maior demanda, e da percepção de que os preços cobrados são menores que os de Roma, nasce uma crescente – e típica – concorrência entre os gauleses movida unicamente pela ambição.
Toda esta abordagem dá à história um tom mais profundo que o habitual, o que não significa que o longa perca em agilidade e comédia. As habituais brigas entre os habitantes da aldeia e o lado infantilizado de Obelix são bem explorados, assim como os vários encontros – ou seriam confrontos? – entre gauleses e romanos, tudo isto em uma animação computadorizada de qualidade. Bastante envolvente, Asterix e o Domínio dos Deuses é um belo exemplo de que é possível fazer uma animação inteligente e divertida que, ainda por cima, seja bastante fiel ao espírito do material original. Uderzo, Goscinny e o público agradecem.
O roteiro nos transporta para os anos 50 antes de Cristo. A Gália está toda ocupada pelos romanos, com exceção de um pequeno vilarejo habitado por gauleses irredutíveis e que não cedem à pressão de Julio César. Cansado das tentativas frustradas, o governador decide inverter a estratégia, construindo um complexo de luxo (o “Domínio dos Deuses”) ao lado da aldeia gaulesa e, assim, impressiona-los e convencê-los a unirem-se a Roma. No entanto, os amigos Astérix e Obelix permanecem inflexíveis e terão que fazer de tudo para manter os romanos longe de sua comunidade.
Nono filme animado da franquia, Astérix e o Domínio dos Deuses consegue unir com competência dois ingredientes que garantem seu sucesso: o apelo infantil (responsável por sequências nonsenses e “fofas”, capazes de agradar os pequenos) e os gags de humor voltados ao público mais adulto, onde a narrativa aposta em piadas de caráter satírico para criticar a falência de algumas instituições dentro do atual cenário francês – entre elas, a estupidez e despreparo da polícia, a burocracia das leis e a hipocrisia e arrogância dos políticos contemporâneos. A sátira pode até passar despercebida para as crianças, mas é provável que os pais se deliciem com as boas sacadas cômicas.
Infelizmente, o filme perde o fôlego em determinado momento (em que até mesmo a fotografia escura chega a incomodar), mas se recupera no desfecho – deveras infantil e fácil, mas nem por isso menor. Com bom planos que valorizam as cores e o cenário computadorizado (que inclusive pode ser conferido em terceira dimensão), Astérix e o Domínio dos Deuses nos traz ainda os carismáticos personagens dos quadrinhos criados por Albert Uderzo e René Goscinny, em uma aventura que é uma ótima opção de entretenimento para toda a família.
ASTERIX ESTÁ DE VOLTA À TELA GRANDE NUMA BATALHA IDEOLÓGICA
por Francisco Russo para AdoroCinema
Ler as histórias de Asterix – e todos seus derivados, como filmes live action e de animação – é a chance não apenas de se divertir, mas também de conhecer um pouquinho mais da história da civilização. Afinal de contas, os personagens criados pela dupla Albert Uderzo e René Goscinny são reflexo direto do imperialismo econômico e cultural dos Estados Unidos perante o mundo, travestido através do conflito existente entre o Império Romano e a aldeia dos irredutíveis gauleses – leia-se alter ego da França. A luta pela liberdade é também um grito desesperado pela manutenção de seus ideais e crenças, sejam eles quais forem, perante um oponente bem mais poderoso e influente. Se em grande parte das histórias publicadas já é possível notar este subtexto, em Asterix e o Domínio dos Deuses ele fica ainda mais incisivo do que o habitual – e é este um dos motivos que o tornam tão saboroso.
Tudo porque, desta vez, o imperador Júlio César decide usar a seu favor um plano ardiloso e ambicioso envolvendo as tentações do capitalismo. Ou seja, ao invés de usar a força bruta para invadir o local e expulsar os gauleses – o que sempre dá errado, graças à famosa poção mágica do druida Panoramix -, o plano desta vez é construir ao lado da aldeia um condomínio luxuoso, com todo o requinte da vida moderna nos anos 50 A.C. É a deixa perfeita para que Uderzo e Goscinny liberem com habilidade diversas cutucadas envolvendo ambição, qualidade de vida, exploração e especulação imobiliária.
Um exemplo é o modo como são tratados os escravos, que, por mais que consigam a alforria graças aos trabalhos executados na construção do Domínio dos Deuses, permanecem presos devido às amarras invisíveis causadas pelas minúcias do capitalismo. O mesmo vale para o mercado de peixe que surge na aldeia gaulesa, graças à presença cada vez maior de “turistas” romanos. Em decorrência da maior demanda, e da percepção de que os preços cobrados são menores que os de Roma, nasce uma crescente – e típica – concorrência entre os gauleses movida unicamente pela ambição.
Toda esta abordagem dá à história um tom mais profundo que o habitual, o que não significa que o longa perca em agilidade e comédia. As habituais brigas entre os habitantes da aldeia e o lado infantilizado de Obelix são bem explorados, assim como os vários encontros – ou seriam confrontos? – entre gauleses e romanos, tudo isto em uma animação computadorizada de qualidade. Bastante envolvente, Asterix e o Domínio dos Deuses é um belo exemplo de que é possível fazer uma animação inteligente e divertida que, ainda por cima, seja bastante fiel ao espírito do material original. Uderzo, Goscinny e o público agradecem.
(Astérix, Le Domaine des Dieux, 2015, 86 minutos)
Direção
Alexandre Astier
Louis Clichy
Roteiro
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