Eu falo de mim -- daqui --,
desta central,
pelo microfone do corpo,
por esse fio que vem do fundo
eu me irradio:
assim, numa transmissão de
sustos e rangidos,
veia e voz ao vivo sob tanto
sangue: - pantera escarlate
que passa e pisa
e se espatifa nesse chão:
pata de lacre,
grito!
pingo sobre o alvo
tão tátil da minha carne,
nos panos
repentinos do meu espanto
nas janelas
onde me debruço sucessivo
e vário, seqüência de mim,
em fotonovelas
me desdobro -- quadro por quadro,
nos desenhos
de dentro do que sou e projeto,
aos poucos, plano e pausa
para fora
com a vida que me veste
pelo avesso:
filmes de sêmen onde publico
figuras de suor e celulóide,
numa lâmina
de velocidade e de lembrança,
em fotogramas
de esperas e posturas -- falha,
folha de slides-células, sopro
e pulso,
página de pele em que escrevo
o uso
a articulada letra do meu gesto,
o rascunho de rugas & rasuras
feito à unha
nas nuas marcas do meu corpo
no espaço,
e nos lençóis da claridade,
monograma, silueta, cadência,
e a fala
que se imprime nesta fita,
neste sulco:
a linguagem como um fim
a linguagem por um fio
e a morte em morse
do Rio de Janeiro em 1940.
Jornalista de profissão, começou a escrever
poesia a sério em 1960.
Trabalhou com Estudos e Pesquisas Literárias
no MEC e na FUNARTE entre 1974 e 1994.
Modernista fortemente influenciado por
Bandeira, Drummond e João Cabral,
Armando faz versos repletos de imagens impactantes.
Segue ativo publicando uma nova coleção
de poemas a cada 3 anos.
Em 1986 recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia
por seu livro "3x4",
mas sua obra-prima indiscutível é "Lar,"
publicado pela Companhia das Letras
e grande vencedor do Prêmio
Portugal Telecom de Literatura de 2011.
Seus poemas escritos entre 1960 e 2000
estão reunidos num volume indispensável
intitulado "Máquina de Escrever",
publicado em 2003 pela Nova Fronteira.
Muito bom!!!
ReplyDeleteMuito bom!!!
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