Friday, March 18, 2016

CAFÉ E BOM DIA #17

por Carlos Eduardo Brizolinha 


Retomo o veio de literatos esquecidos na minha estante com André Malraux.

Mereceu atenção de Hannah Arendt que referendou sua contribuição para o pensamento contemporâneo.

Minha edição de "A Condição Humana" deveras empoeirada recebeu o trato merecido.

André Malraux nasceu em Paris em 1901, participou ativamente das maiores batalhas ideológicas deste século, desde o nacionalismo chinês à Guerra Civil espanhola e a luta de vida ou morte contra o nazismo.

Militante de esquerda, ligado ao Partido Comunista Francês, se opos ao banimento de Trotsky e se rebelou contra o regime ditatorial de Stalin, na União Soviética.

Entre 1958 e 1969, Malraux participou do governo do general Charles de Gaulle como ministro da Cultura, e morreu em 1976.

No livro " A Condição Humana " Tchen, um dos protagonistas, mata um fornecedor de armas e toma consciência que a luta tinha tornado o seu destino irreversível.

A morte era tida como certa, diante da escolha que tinha feito.

O texto, publicado em 1933, escrito como reportagem, pesa nas mãos muito pela construção dos diálogos que são cansativos, mas não perdeu a importância histórica.

Suas questões morais tomam forma nos personagens, apesar de apresentadas numa narrativa fatigante.

O texto merece ser lido. 



Bauman em seu livro “Amor Líquido” procura investigar, porque as relações humanas estão cada vez mais flexíveis, gerando níveis de insegurança que aumentam a cada dia.

Os seres humanos estão dando mais importância a relacionamentos em “rede” (exemplo da internet através de bate-papo, email ou celular através de mensagens de texto) que podem ser desmanchados a qualquer momento e muito facilmente, sendo esse contato apenas virtual, as pessoas não sabem mais como manter um relacionamento em longo prazo, e também se privam de algumas situações consideradas problemáticas, algo como “... comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo; desfrutar das doces delícias de um relacionamento evitando, simultaneamente, seus momentos mais amargos e penosos; forçar uma relação a permitir sem desautorizar, possibilitar sem invalidar, satisfazer sem oprimir...” (Bauman, 2003. p.9).

E isso não acorre apenas nas relações amorosas e vínculos familiares, mas entre os seres humanos de uma maneira geral. Amar diz respeito à auto-sobrevivência através da alteridade.

E assim o amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar; e também à carícia, ao afago e ao mimo, ou a – ciumentamente – guardar, cercar, encarcerar.

Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição, aguardar a ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a responsabilidade.

A sociedade atual está criando uma nova ética do relacionamento, sendo eles cada vez mais fragilizados e desumanos.

A confiança no próximo está cada vez mais próxima de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles mesmos. Um vaso de cristal, na primeira queda, quebra. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas.

A definição romântica do amor está fora de moda.

O amor verdadeiro em sua definição romântica foi rebaixado a diversos conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais se referem utilizando a palavra amor. Noites avulsas de sexo são chamadas de “fazer amor”. Atualmente é muito fácil de dizer “eu te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando, a palavra amor foi rotulada de uma forma em que as pessoas nem sabem direito o que sentem, não conseguem definir uma diferença entre amor e paixão, por exemplo.

Como diz o autor, “Amar é querer gerar e procriar”, e assim o amante busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar.

Não são desejadas coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência.

Vale a pena ler as obras de Bauman.

Café e Bom Dia Para Todos.



Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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