Wednesday, February 24, 2016

2 OPINIÕES SOBRE "PRESSÁGIOS DE UM CRIME", COM ANTHONY HOPKINS E COLIN FARRELL


UM DRAMA DISFARÇADO DE FILME DE SUSPENSE

por Raphael Camacho
para GUIA DO CINÉFILO


Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. Em seu primeiro trabalho em Hollywood, o cineasta brasileiro Afonso Poyart (Dois Coelhos) se exercita no gênero do suspense/drama sem perder suas características estéticas de direção no peculiar Presságios de um Crime. Protagonizado pelo mestre Anthony Hopkins, pelo sósia de Bardem (Jeffrey Dean Morgan), pela musa australiana Abbie Cornish e pelo ator Colin Farrell, o longa-metragem, que custou perto dos 30 Milhões de dólares, fala do inconsciente, quase um exercício nolaniano. A exploração desse tema com certeza deixa o filme mais interessante, principalmente quando percebemos estar em um duelo de Médiuns Videntes.

Na trama, conhecemos dois agentes do FBI, Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine Cowles (Abbie Cornish) que são responsáveis por tentar capturar um serial killer que deixa algumas pistas indecifráveis nas cenas dos crimes cometidos. Buscando alguma luz nesse difícil caso, Joe procura o antigo colega John Clancy (Anthony Hopkins), um homem misterioso, já no final da vida, que tem dons médiuns, que passou por um grande trauma com sua filha. Assim, o trio vai aos poucos tentando decifrar o temido serial killer que utiliza a eutanásia como argumento.

O roteiro, assinado por Sean Bailey e Ted Griffin (Os Vigaristas), é um pouco confuso. No primeiro ato, muitas informações são arremessadas freneticamente. O público pode se sentir um pouco perdido principalmente nas lacunas abertas sobre a personalidade de Clancy. A partir do segundo ato, as peças são mostradas com mais clareza, e, no terceiro ato é um show de suposições, parece que cada personagem tem algumas opções para o desfecho da trama, isso certamente deixa o público curioso com o que irá acontecer nas cenas seguintes. O mais importante é que, no final, John Clancy é preenchido completamente, e assim a história como um todo se sustenta até o fim, nas costas deste intrigante personagem executado com maestria por Hopkins.

Solace, no original, é um drama disfarçado de filme de suspense, tem seus momentos de ação alucinante com muito uso de metáforas de imagens para elucidar o quebra cabeça emocional conseqüente do modo de pensar de cada personagem. A câmera é inquieta, repleta de efeitos que chamam a atenção, marca registrada do diretor que ficou conhecido no Brasil pelo ótimo longa-metragem Dois Coelhos.


TÃO ARDILOSO QUANTO ESPALHAFATOSO

por Fábio Jordão
para Café Com Filme


O gênero de suspense é marcado por muitas tramas que exploram crimes complexos arquitetados, em geral, por sujeitos com ideias mirabolantes que, supostamente, têm alguma razão com certa lógica para cometer atrocidades. A ideia desse tipo de história é fazer a público acompanhar o caso de perto e até tentar desvendar o quebra-cabeça junto com os personagens. O thriller policial sobrenatural "Presságios de um Crime" tenta seguir uma linha similar com essas caracerísticas. Estrelado por Anthony Hopkins (Silêncio dos Inocentes), Jeffrey Dean Morgan (Watchmen) e Abbie Cornish (RoboCop), o filme nos leva a acompanhar um caso junto a dois agentes do FBI (Morgan e Cornish) que estão de mãos atadas na investigação de um serial killer que mata com precisão e, aparentemente, sem nenhum motivo. É nesse momento que os policiais decidem recorrer à ajuda de um ex-colega, o médico aposentado Dr. John Clancy (Hopkins), o qual tem visões premonitórias e um dom excepcional para desvendar crimes. Juntos, eles correm contra o tempo para descobrir o próximo passo do assasino. Muito mistério, boa montagem O roteiro de “Presságios de um Crime” talvez não seja a coisa mais brilhante de todos os tempos, já que a história aproveita várias ideias já usadas em outras obras e coloca tudo num único pacote. É normal ver este longa e imediatamente lembrar de filmes como Seven, afinal são tramas bem similares. O filme com Hopkins até pode lembrar alguns outros, mas ele tem sua porção de genialidade. A forma como os crime são executados, as motivações do assassino, os últimos instantes das vítimas, as premonições e outros elementos na montagem do filme acabam formando um conjunto legal no todo. pressagiosdeumcrime1 99148 Depois que as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar, o filme fica ainda mais interessante. Ele é bem astuto em alguns pontos, chegando a ser sacana com a plateia ao fazer várias manobras para enganar até mesmo os mais atentos. No geral, todo o suspense construído é bacana. Só que o filme não é totalmente redondo. O roteiro deixa algumas pontas soltas, incluindo detalhes sobre como o assassino se aproxima das vítimas, motivações mais convincentes, como a polícia detecta tudo tão rapidamente, de que forma algumas pistas foram descobertas e assim por diante. Talvez isso tudo alongaria a história, mas pelo menos evitaria alguns probleminhas que podem incomodar os mais exigentes. É exagerado, mas é do Brasil! Eu não assisti ao filme 2 Coelhos, que foi a estreia do diretor brasileiro Afonso Poyart nas telonas, mas não foram poucas as pessoas que me indicaram o filme — infelizmente, não dá pra ver tudo e esse acabou passando. Agora, o cineasta volta aos cinemas no comando de “Presságios de um Crime”, filme internacional com elenco de peso. Só isso já é um baita mérito para a carreira de Poyart, mas, além de assumir as rédeas do projeto, ele conseguiu adaptar o roteiro de forma bacana, aproveitando muito do que já aplicou em 2 Coelhos. O filme não é um primor em questão de direção, porque rola muito descuido nas mudanças de câmeras, mas há sim boas ideias. Os closes excessivos para mostrar as caras dos personagens, principalmente as vítimas, acaba funcionando legal para chocar o público. O foco em pequenos detalhes que servem para construir a trama, sequências de câmera lenta intercaladas com efeitos (uma gota de leite que cai no chão, uma xícara de café que se despedaça em mil partes), balas voando vagarosamente pela tela e por aí vai. pressagiosdeumcrime2 d445d Rola até uma overdose de tantos efeitos e câmeras lentas. Em alguns momentos isso até é desnecessário e não se encaixa de forma coerente no roteiro, mas dá pra relevar alguns pequenos descuidos, pois a maioria das ideias de Poyart acabam funcionando legal. Ainda bem que alguns desleixos no roteiro e até os exageros na direção acabam sendo compensados pela história que segue sempre instigante, principalmente por conta de Anthony Hopkins. Mesmo com a idade avançada, o ator ainda se sobressai com seu sorriso enigmático e ao abraçar um personagem de alta complexidade. Por fim, só quero relatar minha satisfação com a trilha sonora do mestre Brian Wayne Transeau, produtor de música eletrônica que conduziu bem legal a sonoridade da película. Não dá pra dizer que temos aqui um novo Seven, nem de longe, mas “Presságios de um Crime” acaba se saindo melhor do que o esperado. Quem gosta de um bom enigma pode se surpreender ao ver o filme no cinema.



PRESSÁGIOS DE UM CRIME
(Solace, 2015, 101 minutos)

Direção
Afonso Poyart

Roteiro
Sean Bailey
Ted Griffin

Fotografia
Brendan Galvin

Montagem
Lucas Gonzaga

Direção de Arte
Brad Ricker

Elenco
Anthony Hopkins
Colin Farrell
Abbie Cornish
Jeffrey Dean Morgan
Jose Pablo Cantillo
Kenny Johnson
Matt Gerald
Sharon Lawrence
Xander Berkeley



em cartaz no Cine Roxy 5




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