Thursday, February 18, 2016

DEDOS DE MOÇAS, CHILIS E OUTROS TEMPEROS (por Ademir Demarchi)



Na feira-livre de hoje, junto com as bananas, as cebolas e os tomates, tem papa e poeta à venda com políticos, tudo com muito tempero apimentado à base de dedos de moças... Não basta um papa, há dois. Um é poeta, ora, ora. Senão, vejamos: é o Wotjyla, aquele homenzarrão de uns dois metros que, sendo poeta, era chegado também numa rachadura, se é que me entende, leitor@. Veja que lírico: “E em nós que contemplamos o outono,/ desencadeia-se a luta através da rachadura,/ que cada homem leva dentro de si;/ quando o homem ainda está no passado de seu amanhecer,/ e quando não consegue aquele amanhecer em seu corpo”. Aos mexeriqueiros de plantão recomendo a ótima crônica de Juan Arias no El País, sugestivamente intitulada “A conflitiva relação do papa João Paulo II com as mulheres e o sexo”. Nela Arias relata as aventuras e atribulações do incansável fauno polonês, que adorava passeios nos bosques e acampamentos com moças e que era tido como muito conservador, mas que, aprisionado naquele antro de poder institucional totalitário em que bem transitou, numa espécie de arroubo erótico e macho “defendia que o papel da mulher na Igreja era, como Maria, ‘estar de joelhos e em silêncio aos pés da cruz’”. Ou seja, de joelhos aos pés do homem-cruz e com as pimentas que sua imaginação temperar... O chato era ter que discutir a relação. Pois veja o que ele escreveu: “Minha querida Teresa, recebi as três cartas. Você escreve sobre sentir-se despedaçada, mas não consigo encontrar nenhuma resposta para essas palavras”. Aos mexeriqueiros que estão cansados de falar de religião, na política há também os bastidores, ou melhor, os lençóis da política, com o cacho (a feira...) do FHC, a jornalista Miriam Dutra, com quem teve um filho, que foi bloqueada por ele até a aposentadoria em dezembro passado e isolada na Europa com apoio da Globo. A história desse nobre homem e fauno emplumado tropical e dessa mulher, que alguém já anda dizendo que está botando a boca em outro instrumento, agora num trombone, porque ele a preteriu para se amasiar com a secretária, à qual deu um apartamento de um milhão, sendo que ganha salário de professor... está na revista Brazil com Z, com chamada nobre na Folha de S. Paulo através do odiento Jozias de Souza. Enquanto FHC não publica seu livro de poemas para fazer sombra ao vice decorativo, também poeta, o outro papa, o atual, que ainda não mostrou suas poesias, está no México pedindo perdão aos índios. Poderíamos aceitar esse gesto como grandioso e humanitário se ele não o fizesse dizendo para um bando de índios catequizados mentalmente para os horrores ideológicos da doutrina católica, ainda uma vez mais massacrados em sua cultura de origem, trocada por noções civilizadas cristãs como medo, horror, pecado... Pedir perdão assim, para angariar mais mentes controladas e dízimos, anulando mais uma vez a cultura do outro é querer amenizar o chili picante do México. Em vez de óstia, melhor faria esse papa falastrão se adotasse a cultura cíclica e trágica das antigas civilizações astecas massacradas pela máquina capitalista e religiosa. Cito Calvino de “Sob o Sol-Jaguar”: “a cada cinquenta e dois anos o universo acabava, morriam os deuses, os templos eram destruídos, cada coisa celeste ou terrena mudava de nome”. Parece eleição, não é? Considerando que os mandatos, casuisticamente para evitar uma hipótese Lula eleita, passarão para cinco anos, creio que viveremos mais uma fase mexicana apimentada com chili asteca de ciclos de cinquenta anos em cinco...


Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho

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