Monday, February 22, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA (por Mário Quintana)


A RUA DOS CATAVENTOS


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!



Mario Quintana nasceu em Alegrete (RS),
no dia 30 de julho de 1906.
Seus poemas foram publicados
em vários jornais e revistas
do Brasil inteiro nos Anos 1930
Em 1939, Monteiro Lobato encomenda a ele
um livro de poemas e ele entrega
"A Rua dos Cataventos",
o primeiro de uma série espetacular
de 21 grandes livros de poemas
e 13 antologias poéticas.
Trabalhou muitos anos no jornal
Correio do Povo e morreu em 1994.
O Hotel Majestic, no centro de Porto Alegre,
onde Quintana viveu entre 1968 e 1980,
foi comprado pela Prefeitura e transformado
no Centro Cultural Mário Quintana.
   


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