Friday, February 5, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA DE CARNAVAL (por Carlos Drummond de Andrade)



A BUNDA, QUE ENGRAÇADA

por Carlos Drummond de Andrade



A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.






Carlos Drummond de Andrade
(Itabira MG 31/10/1902 - Rio de Janeiro RJ 17/08/1987)
é considerado o mais influente poeta brasileiro do século XX.
Drummond possui mais de 50 livros publicados
entre crônicas e poesia.
O valor de seu legado literário é imenso.





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