Monday, February 15, 2016

SANTOS, CIDADE DE 1° E 3° MUNDOS (por Antonio Luiz Nilo)



Mesmo com o saldo pouco ou nada positivo do enredo da Grande Rio, Santos tem sido já há algum tempo notícia recorrente de jornais e blogs do país inteiro. E o motivo é sempre o mesmo: umas das melhores, senão a melhor cidade do Brasil para se viver.

Apesar da credibilidade dos institutos que divulgam as pesquisas, é importante se levar em consideração a frieza natural das estatísticas. Os números são imprescindíveis para contabilizar resultados, mas nem sempre são eficientes para contar histórias.



Por exemplo: de nada adianta ter o melhor IDH do estado de São Paulo, com índices europeus de educação e saúde, se numa policlínica novíssima como a do Gonzaga as goteiras simplesmente interditaram a pediatria. E, consequentemente, o ar-condicionado do piso superior deixou de funcionar em pleno verão santista, onde a sombra costuma ter a mesma temperatura das febres muito altas.

De nada adianta ter a maior frota de ônibus com ar condicionado e wi-fi do Brasil se o motorista costuma embolsar o seu troco, alegando não ter moeda suficiente. E se você, no dia seguinte, não tiver o valor completo da passagem, mesmo que faltem poucos centavos, ele jamais autorizará o seu ingresso, ainda que você consiga lembrá-lo do dia anterior. Ou seja, acelera-se a tecnologia, mas a educação continua com o pé no freio.



Pouco adianta ter o maior jardim de praia do planeta, muitíssimo bem cuidado, com quiosques, banheiros e duchas espalhados por todos os seus 6 quilômetros de extensão, se o lugar virou território de centenas de moradores de rua, que passam o dia enchendo o rabo de cachaça, fumando crack e assustando os banhistas com aquela aparência de Tom Hanks em "O Náufrago", ou Doy Jorge em dias de profunda abstinência.

De nada adianta ser uma cidade com um invejável portfólio de projetos ambientais e sociais, e um cuidado especial com a melhor idade, se o seu público jovem não tem educação e o mínimo respeito pelo patrimônio público, vandalizando equipamentos, pichando monumentos e despejando garrafas de vodka barata pelos gramados da orla depois de suas farras noturnas.

Ok,ok... não se trata de um “complexo de vira lata”. Seria mais justo dizer que Santos é um lugar que sofre do “complexo do Border Collie”: é bonito, bem tratado, mas continua sendo um cachorro.






Antonio Luiz Nilo nasceu em Santos
e é redator publicitário
e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais e internacionais.
Circulou a trabalho por todo o país,
com paradas prolongadas em
Brasília, Belo Horizonte e Salvador.
Publicou em 1986
"Poemas de Duas Gerações"
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(disponível para venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais
na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor
da Agência de Textos
TP Texto Profissional.


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